quinta-feira, março 01, 2007

Consulta por Srta. Jones

"E onde dói mais?"

"Aqui, nas têmporas. Parece que estão esmagando a minha cabeça pelos lados."

"Há quanto tempo você sente essa dor?"

"Humm, algumas semanas, uns dois meses, talvez."

"E você lembra quando começou?"

"Não, mas eu lembro que estava tomando um chocolate quente na hora."

"Chocolate quente?"

"É. Não estava muito bom. Muito aguado."

"Sei. Bom, eu vou te passar um remédio para a dor e vou pedir que você faça uns exames, nada muito complicado."

"Pra saber se é um tumor?"

"... n-não, não é para isso. Até porque não deve ser nada demais."

"Um-hum. Não é um tumor então?"

"Pelos sintomas que você descreveu, provavelmente não."

"Ok. Bom saber."

"Mas mesmo assim é necessário fazer os exames, pra eliminar possibilidades."

"Eliminar possibilidades. Mas se provavelmente não é um tumor, então esta possibilidade está descartada, não está?"

"Probabilidade é diferente de possibilidade."

"Então, o senhor está me dizendo que não é provável, mas que é possível?"

"S-sim, é mais ou menos isso. Mas como não é provável, dificilmente será possível."

"Sei. Então o senhor elimina a probabilidade mas mantém a possibilidade?"

"Sim, sim. Exatamente."

"Sei. Sei."

"Entenda, nem tudo que é improvável é impossível, assim como nem tudo que é possível é provável, e tudo que é impossível é improvável."

"Uh-huh. Entendi. Eu acho."

"Mas nesse caso específico, sim, eu estou eliminando a probabilidade mas mantendo a possibilidade, já que tudo é possível."

"Nem tudo."

"Mas é claro que sim."

"Não é possível que chovam canivetes."

"Claro que é. Se uma pessoa subir até o andar mais alto de um prédio e jogar vários canivetes em direção à rua, então estarão chovendo canivetes."

"Então quer dizer que tudo é possível?"

"Exatamente. Nem tudo é provável, mas tudo é possível."

"Ok, ok. Bom, o senhor já fez a receita?"

"Ah, sim. Está aqui. E a guia para os exames."

"Bom, então, até a próxima consulta."

"Até a próxima consulta."

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