"Quer dizer que nós podemos?"
"Sim, nós podemos."
"Mas será que não vai dar problema? Quer dizer, a gente não vai parar na cadeia por causa disso, né?"
"Bem, acho que não. Ah, e também não importa."
"Como assim, cara, 'não importa'?! Se isso vai colocar a gente em cana então eu vou pular fora."
"Ah, larga de ser covarde. A gente pode fazer isso."
"Mas e sem alguém vir? E se algum vizinho der com a língua nos dentes, o que a gente faz?"
"Foge."
"Ah tá, como se fosse fácil, assim. A polícia acha a gente em qualquer lugar, cara."
"Acha nada. Fora que eles vão até achar bom se a gente fizer isso. A gente vai prestar um serviço à comunidade."
"Pára de brincar, cara. O negócio é sério."
"Tá, parei. Mas olha, pensa assim: o importante é que a gente pode, e deve. Se a polícia vai ficar sabendo, aí já é outra história."
"É, pode ser. Eu sei que a gente pode. Eu só fico com medo de isso dar a maior merda depois. Sabe como é, eu tenho os meus filhos pra criar. Não posso deixar minha família na mão."
"Tudo bem, mas a gente dá um jeito de se safar se o negócio ficar esquisito pro nosso lado. Eu tenho os meus contatos, cara. Eu me garanto e ainda coloco você na fita também."
"Beleza. Se é assim..."
"Então, tá combinado?"
"Combinado."
"Assim é que se fala. Você sabe que a gente pode."
"É, a gente pode mesmo. Amanhã a gente vai linchar o proprietário."
***
Inspirado em "Let's Lynch the Landlord", dos Dead Kennedys. A autora desde já se declara contra linchamentos e qualquer outro tipo de agressão física, verbal, auditiva ou visual.