sábado, dezembro 09, 2006

Compreensão por Srta. Jones

Nós estávamos comemorando o aniversário de uma amiga. Era uma casa do tipo sobrado, com um palco e um bar no térreo e um mezanino no segundo andar. A discotecagem era, como de costume, ruim, mas alguns acordes romperam e eu sabia que aquela era a minha música. Eu comecei a cantar junto, sentindo cada palavra explodir e formar um grande nó em minha garganta. Eu queria que ele soubesse o que eu estava sentindo, mas ele só conseguiu demonstrar que achava a música ruim. "Que música sem graça", foi o que ele disse. E eu continuei cantando, porque sabia que ele não era capaz de ver além do meu sorriso a verdadeira razão para eu cantar. Era a música que falava sobre a minha dor, sobre o que eu perdi. A letra que contava o meu sofrimento de uma maneira que eu jamais poderia fazer. Uma canção sobre luzes e sobre sentir o passado se desfazer e o futuro nos tornar cruéis com quem já fomos. É sobre mudar e esquecer todas as lições que a juventude traz. A voz canta, "The more you know/ the less you feel". Ele aprendeu que quanto mais conhecemos o mundo, mais perdemos a capacidade de sentir dor, de nos apiedar. Quanto mais vemos, menos sentimos. Caminhamos para o fim trocando o sangue e a carne por uma couraça que nos impede de sofrer. Uma anestesia que nos torna cada vez mais insensíveis, até pararmos por completo.

Mas ele não sabia disso. Nunca quis saber. Essa música, de uma certa maneira, falava de nós. Falava de tudo o que estávamos perdendo, e do que ainda íamos perder. De como o tempo nos enganou e nos trapaceou, e transformou o que era tão bonito num sentimento vazio e sem salvação. "Can you see the beauty inside of me? / What happened to the beauty I had inside of me?" O que aconteceu com nós dois? O que aconteceu com a beleza que havia no que nós dois dividimos por tanto tempo? Será que todo sentimento é como uma flor, que inexoravelmente tem que morrer? Será que tudo no mundo tem que perecer e deixar de existir? A vida é mesmo uma sucessão de perdas, onde pouco se ganha? Eu sempre acreditei em soluções, em contornar situações ruins e resolver problemas. Mas quando as coisas mais importantes da minha vida começaram a morrer, eu vi que não tinha respostas para tudo. Quando eu mais precisei, as minhas soluções deixaram de funcionar. Quando eu tive que ser mais forte, eu me tornei impotente. Quando eu não queria perder, eu tive que deixar ir.

"And I miss you when you're not around
I'm getting ready to leave the ground"

Na cidade das luzes ofuscantes.

Um comentário:

Anônimo disse...

As luzes te ofuscaram. Mas você viveu.