segunda-feira, novembro 26, 2007

Agonias Modernas por srta. Jones

Estou enfim colocando para frente um projeto sonhado e meticulosamente planejado por dois anos e, por isso, tenho passado os últimos dias fazendo exaustivas pesquisas na internet e disparando emails diariamente. Não sou uma pessoa que manda muitos emails, até porque a maioria das pessoas com quem me relaciono de alguma forma está ao alcance do telefone (ou das mãos, dependendo de quem for). Por isso mesmo, quase nunca tenho que me preocupar com a capacidade alheia de responder às missivas eletrônicas em tempo hábil ou ao menos num período que seja minimamente tranqüilizante. Esta preocupação agora é minha companheira diária. Companheira desagradável, diga-se.

A incapacidade humana de corresponder aos anseios mais básicos do outro e a habilidade de deixar para amanhã o que deveria ser feito hoje são tão irritantes quanto crianças que andam com aqueles tênis de rodinhas pelos shoppings. Despertam em mim, em igual medida, a vontade semi-controlável de estapear os procrastinadores e obrigá-los a ir ao encontro daquilo que lhes é pedido (ou, no caso das crianças, deixar o pé na frente quando elas passarem - imaginem que belo seria o tombo).

De 15 emails enviados em sete dias com o mesmo objetivo para cinco remetentes, só obtive resposta para três, sendo que apenas um realmente satisfez (em parte) as minhas necessidades. E cá estou eu, dependendo da resposta de todas as mensagens para levar meu plano adiante. Nada pode ser realmente feito sem este feedback e o tempo está conspirando contra mim. E isso não importa a ninguém, porque ninguém além de mim está realmente preocupado com isso.

As conexões ultra-rápidas e os celulares transformaram a noção moderna de tempo e espera. É intolerável para alguém deste século ter de esperar algumas horas por um telefonema, ou um dia pela resposta de um email. E não muda nada saber que há tão pouco tempo se esperava dias e dias, semanas, por cartas, encomendas, encontros. Eu continuo querendo que os meus 15 emails sejam respondidos presto, porque é essa a idéia que o novo mundo nos vende. De que tudo pode ser conseguido a qualquer momento, em qualquer lugar, o mais rápido possível. De que tudo pode ser visto e sentido em tempo real. Agora.

E eu continuo olhando para a minha caixa de emails vazia. Que droga.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Desintegrado por srta. Jones

Quantas vezes alguém pode estragar tudo na vida? Quantas vezes você pode jogar uma chance de ouro no lixo? Quantas vezes alguém precisa sentir um arrependimento mortal para aprender a não colocar tudo a perder?

O cara tinha tudo para ser um sucesso. Todo mundo o via como alguém que seria grande um dia. Só ele não percebia isso. Não percebia que era bonito, que era inteligente, que era alguém para se admirar. Ele só sabia errar, vez atrás de vez. Era um especialista em desistir, em não tentar. E a vida sempre sorria para ele. Como sorri para poucos.

Um dia ele estava saindo de uma entrevista de emprego e tomou um tombo. Bateu com a cabeça no meio-fio e por um triz não foi atropelado. Teve uma concussão e ficou em coma por duas semanas. Quando acordou, não sabia quem era e falava em italiano. Não reconheceu a família nem a namorada. Levou três meses para lembrar que sua língua materna era português e que era formado em administração. Estava perdido. Totalmente perdido.

Mais dois meses e ele estava voltando a levar uma vida próxima do normal. Abriu sua caixa de emails e viu que havia sido aprovado na entrevista. O email datava de quatro meses e meio atrás. Outra chance perdida. Outra vitória que estava na sua mão. Só que havia uma porcaria de meio-fio no seu caminho, num dia em que tudo poderia dar certo. O que ele vai fazer agora?

Pelo menos ele aprendeu a falar italiano.