quinta-feira, janeiro 03, 2008

Vidro Quebrado por Srta. Jones

Sempre tive a mania de buscar as histórias das músicas que gosto. Quanto mais misteriosa e intrigante a letra, maior a minha necessidade de descobrir o que existe por trás dela. Foi assim que, ouvindo "Christine", da banda Siouxsie and the Banshees, eu me interessei em pesquisar uma doença chamada Transtorno Dissociativo de Identidade (a popular síndrome de personalidade múltipla). A música trata do caso real de uma mulher americana chamada Christine Costner-Sizemore que, em um momento de sua vida, chegou a ter 22 personalidades diferentes, todas em resposta a diversos traumas sofridos pela paciente. Hoje a senhora de 80 anos está curada, mas sua condição está eternizada na música de Siouxsie Sioux, em um filme (Three Faces of Eve) e em dois livros, e certamente ainda gera a curiosidade de muitos outros caçadores de histórias obscuras. Mas este post não é para falar da sra. Costner-Sizemore ou de Siouxsie and the Banshees. O que realmente me motiva é a tal da personalidade múltipla.

O TDI é uma condição que confunde psiquiatras porque muitos de seus sintomas são comuns a outras doenças - e algumas escolas defendem que, na verdade, o transtorno é um sub-sintoma de outros distúrbios. Há ainda os profissionais que não acreditam na existência do TDI, pois seu diagnóstico é subjetivo e há pouca evidência empírica de sua ocorrência. Mas o fato é que a antiga síndrome de personalidade múltipla é uma doença que, real ou inventada, encanta e assusta a ponto de gerar controvérsia, discussão, curiosidade e arte. Imaginar que uma única pessoa possa se dividir em duas ou mais e assumir diferentes vozes, trejeitos e maneiras de pensar é algo que instiga o senso lúdico de cada um. Seria essa doença um teatro pessoal, em que o "ator" interpreta diferentes personagens de acordo com os estímulos externos do ambiente e das pessoas que o cercam? Seria um possessão espiritual? Talvez apenas uma maneira mais livre e radical de se desvencilhar de pessoas e situações incômodas? Uma bela desculpa para se cometer um crime ou "esquecer" de pagar uma dívida? Eu particularmente fico com a tese de que esta é uma doença real e que quem finge tê-la, na verdade, tem outros problemas psiquiátricos (ou é apenas cara de pau).

Mas o meu objetivo ainda não é falar só sobre Transtorno Dissociativo de Identidade. O que realmente tem me intrigado é perceber como pessoas comuns, sem traço aparente de doenças psiquiátricas graves, podem mudar de comportamento de forma repentina, assustadora ou somente frustrante. Sabe aquele amigo que passa um mês te ligando quase todos os dias e de repente some? Ou aquele cara que parece estar afim de você mas que, de uma hora para outra, se comporta como se vocês nunca tivessem se conhecido. Quantas vezes você não se pegou perguntando "esse cara é maluco?"? Você cumprimenta uma vizinha todos os dias e às vezes ela responde - em outras é como se ela não tivesse a menor idéia de quem você pode ser.

O problema da mudança súbita de comportamento é impedir o estabelecimento de relações de confiança com algumas pessoas. E eu não me refiro especificamente à segurança de se poder contar segredos para alguém, mas simplesmente ao fato de ser querer ter algumas certezas sobre as pessoas com que convivemos. Poder esperar certas atitudes ou dar como garantidas algumas benesses que só a amizade traz. Ter certeza de que aquele recado na secretária eletrônica vai ser respondido, ou que o convite para um almoço vai ser bem recebido. Uma amizade só faz bem se você não precisa ficar roendo as unhas toda vez que manda um email. A longo prazo, amigos que não agem como manda o figurino ou que repetem comportamentos insólitos não valem o investimento. A menos que eles tenham alguma coisa em comum com Christine - aí é melhor você se informar sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade e não esperar sentado por um telefonema.

3 comentários:

Andre disse...

Sei exatamente o que é isso. E concordo com você: uma amizade só pode realmente existir quando há um mínimo de cumplicidade, de expectativas não-frustradas. É claro que há uma ou outra situação em que uma atitude mais inesperada pode ser compreendida, mas quando isso é hábito, quando a tensão é perene (ou mesmo intermitente), aí tudo fica muito complicado, ou até insustentável.

Anônimo disse...

Ou então mandar pro tal amigo um e-mail-cartilha sobre o TDI, apontando profissionais na cidade dele e desejando pronta recuperação. :D Há poucos meses eu mandei pra uma lista de discussão um e-mail pedindo um minuto de silêncio pela amiga que me apresentou à lista: ela mudou de Natal pro Rio e, ao virar "vizinha de cidade", desapareceu.

Michelle disse...

Oi Ju!
Respondendo à sua pergunta:

Olha só, realmente o pincel de corretivo avulso está em falta!!!
Só o encontro no kit mesmo!!! Tanto que nem sei o preço dele avulso!
Irei a SP novamente na sexta e se eu encontrar com certeza comprarei, pois a procura é grande!

Bjinhus