sábado, outubro 13, 2007

Mergulho por Srta. Jones

Às vezes é difícil situar a própria vida sem recorrer ao status da vida alheia. De quando em quando me faço intrusa e busco o paradeiro de amigos perdidos com o tempo. Outras vezes sou surpreendida com notícias de gravidez, mudança ou viagens inesperadas. Estou numa daquelas idades estranhas em que tudo à minha volta parece estar se encaixando, enquanto eu continuo fora do lugar. Mas sou eu mesmo o elemento estranho ou são os outros que estão mudando rápido demais?

Com alguns poucos cliques descubro que uma antiga paquera metamorfoseou-se em homem casado, pai de um filho e respeitável servidor público. Outro dia, a notícia da gravidez de uma colega dos tempos de ginásio quase me fez engasgar com o café. Fora aqueles que já asseguraram seus empregos em escritórios de advocacia, agências de publicidade, hospitais etc, ou os que saíram da cidade ou do país e levam, enfim, uma vida séria. Nada como a minha própria vida.

A minha existência é, para quase todos os propósitos, bastante fútil. Meu tempo é dividido entre estudar, sair, dormir, ver televisão, jogar horas e horas fora no computador, fazer compras (eu disse que era uma existência basicamente fútil), ler. Às vezes me entrego à cada vez mais difícil tarefa de imaginar o futuro, projetar algo que subsista por mais de duas semanas. Quando se chega à minha idade, na minha atual situação, pensar no futuro nada mais é do que fonte impressionante de pavor. Olhar para a frente e admitir que há vida para além do próximo ano é aceitar que estou, hélas, envelhecendo. E envelhecer antes dos trinta traz cabelos brancos. Muitos. E rugas. E a necessidade de se jogar fora metade do guarda roupa por simples receio de parecer ridícula e imprópria perante a sociedade. E é também admitir que existe uma nova geração só esperando que eu apague as luzes para invadir o espaço que eu e tantos outros ocupamos por tanto tempo. É assumir que sim, o tempo passou. Infelizmente, para todos nós.

Mas eu não estou realmente preocupada em ser adulta. Quando descubro que o ex-flerte casou, que a ex-colega será mãe, que um conhecido qualquer já é sócio em alguma firma de advocacia, não me sinto como se estivesse no caminho errado. Eu não queria estar casada. Eu não queria ser mãe. Eu não queria assumir mais responsabilidades do que a experiência me permitiria. Não mesmo. Eu não observo a vida destas pessoas e penso, arrependida, "poderia ser eu. Poderia ser a minha vida". Não. Eu penso, apavorada, "poderia ser eu. Poderia ser a minha vida". Descobri há muito tempo que a minha vida seria diferente da dos meus contemporâneos. A minha pressa sempre foi outra. O momento de "sossegar", para mim, habita em pesadelos. Não que eu não queira crescer. Não tenho pretensões de ser eternamente jovem e passar o resto dos dias imaginando qual será meu próximo destino turístico. Mas não entendo o "crescer", o "ser adulto" como ter de comprar um pacote completo de atribuições que fazem a vida parecer uma camisa de força. Não quero ser uma trintona amarga como muitos de meus amigos e colegas, infelizmente, serão. Sempre imagino se, lá no fundo, eles não se arrependem pela pressa das escolhas. Talvez eu esteja errada. Talvez eles sejam felizes. Mas, por via das dúvidas, eu continuo fazendo parte do pequeno porém barulhento grupo dos que ainda não querem envelhecer.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Sopro por Srta. Jones

A felicidade é dos outros. Minha, só mesmo a mania de observá-la. Passo horas, dias, semanas olhando fotos com sorrisos que não são meus, abraços que não me envolvem, beijos que não me tocam. Fotos em preto e branco, coloridas, casais, amigos, a vida que eles sabem viver e eu só sei deixar passar. Quando isso acaba?

Eu pensei que fosse aprender algum dia. Aprender a fazer esta coisa tão incrível e simples. Mas existe um vazio tão grande entre o que eu desejo e o que eu realmente sei. Algo em mim diz que se eu pudesse me dividir entre uma marionete e seu animador eu seria mais feliz. Em tese eu sei tudo, absolutamente tudo o que há para se saber sobre como ser uma pessoa satisfeita. Meus conselhos e confissões no papel são a prova. Mas, na prática, eu sou tragicamente incapaz.

Eu sou a exata imagem daquele que passa seus dias olhando pela janela, vendo os outros fazerem tudo aquilo que ele desejaria fazer. Mas eu não tenho liberdades. Talvez eu não me dê liberdades. Eu não preciso de juízes ou prisões. Eu mesma resolvo isso. Para escrever estas linhas eu criei um limite, e tenho medo de ultrapassá-lo.

Eu chego à conclusão de que realmente não sei o que fazer.